Hoje, uma reflexão que ensaio já faz um tempinho, uma conversa simples e objetiva sobre a importância do discipulado, de um direcionamento na vida como um todo. Acompanhe!
O ano foi 1871, mais precisamente dia 28 de Setembro. O contexto ainda representava um período difícil de violação de direitos mínimos, a escravidão. Pressões e mais pressões, leis e leis, sai a promulgação da lei objeto de nossa reflexão, a lei do Ventre Livre.
Logo na introdução, o primeiro artigo da referida lei traz a afirmação de que os filhos de mulher escrava que nascerem no Império, tendo como marco temporal a própria lei, serão considerados de condição livre. Em resumo, as crianças que estavam nascendo nesse contexto não estavam oficialmente subjugados à escravidão, seus corpos eram livres daquele jugo.
Paulatinamente, se buscava dar forma ao movimento abolicionista, num quadro de proposições legais, há uma carga significativa na Lei do Ventre Livre em razão de sua projeção no tempo e no impacto intergeracional. Entretanto, as considerações não morrem na letra da lei, vez que se faz necessário verificar em quais tapetes caminharão os que são alvo direto do texto legal.
Os demais dispositivos da Lei traziam um rito para a liberdade oficialmente assegurada, até completarem oito anos de idade, as crianças nascidas a partir daquela data deveriam ficar com suas mães, ultrapassado esse período, duas opções se apresentavam no cenário da vida, a primeira fazia referência a um preço e tratava-se de indenizações estatais, a segunda correspondia a continuidade da exploração da mão de obra até vinte e um anos completos do indivíduo. A prática expôs que a primeira opção pouco foi utilizada, restando evidente a preferência dos senhores donos de escravos pela continuidade da utilização de suas forças no trabalho.
Nossa reflexão sobre o discipulado começa na observação da liberdade dos filhos. O Reino de Deus não caminha sobre contextos de escravidão, significa construir a ideia de que os filhos nascidos, em nossa reflexão de novo, recebem uma liberdade característica desta nova forma de viver. Anterior ao encontro com o Salvador, muitos são os jugos de escravidão, intergeracionais, geradores de um cansaço de vida, tanto que o Filho de Deus diz que o Espírito do Senhor esteve sobre Ele exatamente para trazer libertação.
Vamos caminhar nesta perspectiva, os nascidos de novo detêm uma liberdade garantida por Aquele que se manifestou para substituir o jugo. Exemplos temos de montão, o caso do endemoniado de gadara é um deles, espíritos expulsos que por muito tempo subjugaram pessoas nos tempos de Cristo e foram repreendidos pela Autoridade Suprema do Mestre galileu.
Nessa esteira, um pressuposto claro é que a liberdade do novo nascimento é real, não depende do contexto de escravidão que se vive. A Cruz representa uma ressignificação profunda sobre essa liberdade, o maior símbolo de tortura e morte tornou-se a maior conceituação da Graça de um Pai amoroso, o Rei que se fez réu promoveu o florescer da raíz de terra seca em videira verdadeira, o Leão se fez Cordeiro.
Garantida a liberdade, percebe-se que a lei fez referência a idade de oito anos da criança naquele contexto de escravidão, aqui as evidências do discipulado e sua necessidade começam a se apresentar. Nasceu de novo? Os primeiros anos demonstram uma situação de dependência de referências. O menino até os oito anos não tem condições de usufruir sua liberdade como ela foi estatuída em razão da ausência de condições de sobrevivência, é novo demais para caminhar sozinho, enfrentar os desafios da subsistência, se alimentar, residir em um lugar minimamente saudável ao seu desenvolvimento, são muitos os desafios do pós nascimento na fé, o que faz com que você permaneça exatamente no lugar onde estão as pessoas que o geraram.
Nossa primeira reflexão se dirige a discipuladores, você é responsável pelos contextos em que seus filhos na fé darão seus primeiros passos, se sua mentalidade for escrava, seja qual for a prisão, todos os que forem gerados em ti permanecerão nesse contexto em seus primeiros anos de fé. O discipulado é um ciclo, aponta para uma verdade inafastável pela via dos argumentos, você só saberá cuidar e dar destino a alguém se você tiver passado por este processo, vale lembrar que a regra é amar o próximo como a si mesmo.
Em que contexto se desenvolvem seus filhos na fé? Ou a que contexto os subjuga buscar desenvolvimento? Permita seu pensamento começar a projetar além de destinos de excelência, ambientes favoráveis ao desenvolvimento de grandes filhos.
O discipulado não se desenvolve pela necessidade, em uma observação simples, os maiores de oito anos tem opções no dispositivo da lei em comento, mas não existem perspectivas nelas. Ultrapassada a reflexão sobre contextos, em quais perspectivas você gerencia a forma de falar ao coração de alguém? Muitos servem o vinho de forma indiferente, sem demonstrar o real significado do sacrifício na cruz, apresentam um discurso padronizado de compreensão sem propostas de mudança. Uma pergunta cabe bem neste momento, oito anos caminhando e convivendo contigo leva uma pessoa para qual perspectiva? Aceitar um preço indenizatório ou acreditar na garantia de um tempo diferente, áureo.
O discipulado é uma pregação que dura bem mais de uma hora, vai além do templo, não tem hora nem data marcada e em alguns casos só acaba quando um dos dois desta relação de aprendizagem para de respirar.
O aprendizado que se tira é que a igreja não é um hospital de diagnósticos, nós também temos respostas de tratamento e cura. Sua visão de discipulado tem que trazer projeção, quando Saul recebe a missão de seu pai de buscar as jumentas perdidas, ele caminha pela necessidade de executar um trabalho, isso fala de um pai que gera mentalidade de trabalhador terceirizado no contexto de Reino, mas o encontro com o profeta, gera óleo sobre sua cabeça, um pai na fé que redime pelo Destino que é destravado a partir de uma nova perspectiva, o menino agora tem um propósito.
Davi desenvolveu uma amizade muito intensa com Jônatas, mas antes, havia conhecido Saul. Os dois trazem focos diferentes ao jovem guerreiro, Saul oferece suas armaduras a Davi projetando uma necessidade de defesa que se absorvida, poderia mudar tragicamente o desfecho da história, o poeta não consegue nem se mover com tamanha imposição de Saul, armaduras também podem representar um peso desnecessário para uma necessidade inexistente, tudo depende da visão de quem discipula. Quando chega mais a frente na bíblia, Davi e Jônatas desenvolvem uma amizade profunda, o filho de Saul deu ao pequeno guerreiro sua espada, percebe a mudança na projeção? Seja protagonista meu amigo, saia da passividade. O ponto decisivo no começo de Davi não foram os desafios que se apresentaram, mas as vozes que falaram ao seu coração.
Não desenvolva uma relação de cuidado pautada exclusivamente nas necessidades, ou você se tornará refém delas, gerando filhos inconstantes que levam a vida na fé como uma montanha russa que oscila entre altos e baixos, entre dias de medo e adrenalina. Tenha conteúdo suficiente para projetar protagonismo e um grande destino profético. O melhor pai na fé que você pode ser não é aquele que cria os filhos para dependerem de ti, mas o que cria para o mundo sabendo que aquilo que foi plantado no interno de cada filho fará com que eles saibam o endereço e quando devem regressar ao coração do Pai. Gere filhos na fé que voltem a ti pela gratidão e não pela próxima necessidade.
Toda a liberdade conquistada por Cristo para nós em um novo nascimento precisa das balizas do discipulado, ter ferramentas e não saber usá-las traz sobre o coração do aprendiz um desestímulo para continuar. Muitas pérolas são desprezadas por muitos por conta deste fenômeno, talentos enterrados por um medo intrigante de não saber como será e o que fazer com aquilo.
A segunda parte desta reflexão se dirige a todos, andar sozinho é a pior das escolhas que se pode fazer com essa liberdade conquistada. O Pai é nosso, isso pressupõe que sejamos um. A primeira palavra mais incisiva que Cristo liberou sobre Pedro foi: Segue-me. A última também, pouco após ser restituído ao propósito.
Seu coração é ensinável? Se a resposta for não, preste atenção a estas palavras.
Qual a serventia de uma liberdade sem destino? Um passaporte sem recursos?
Meus Parabéns….. Você é o leitor de número um milhão e acabou de ganhar uma viagem incrível para o lugar dos seus sonhos. Só que você vai ter que ir sozinho, se você quiser chegar ano que vem lá tem que ir agora, a proposta é não contar com pilotos de avião, esquece aeroporto, carro? não, você não pode conversar com as pessoas, você não pode ter contato com elas, você tem que tentar usufruir do seu presente sozinho. Difícil? Simplesmente por não valer a pena.
Você enxerga futuro nos trabalhos que realiza pelo Reino? Com que motivação você se movimenta? Tem algum propósito com tudo isso ou faz para tirar o peso da consciência?
O mundo é grande demais para quem tenta mudá-lo sozinho. Seu destino profético será próspero na mesma proporção do caráter ensinável do seu coração. Significa que você vai precisar romper preconceitos para ouvir mais. O Espírito Santo sempre me cobrou dizendo: Antes de ser uma voz no seu tempo, seja um bom ouvinte.
Lembre-se que aos oito anos, conforme o exemplo da lei do ventre livre, você precisará decidir o que fazer com o que conseguiu reter. Nenhum discipulador é eterno, hoje você caminha com alguém, mas vai chegar um dia que só lhe restará o legado desta pessoa e você vai precisar decidir o que fazer com ele.
A grande proposta, se você chegou até aqui, é dizer que além do domingo de mover e agendas existe uma segunda-feira que vai te perguntar o motivo de você ter acordado e se sua resposta não for firme, seu ingresso para a montanha russa está pago e dificilmente alcançarás a realidade daquilo que um dia a Eternidade te prometeu.
Discipulador, seja íntegro no seu mister, seja bíblico sem concessões, não gere filhos para viver com mentalidade de escravos de um reino quando sua identidade é de filhos. Por fim, seja responsável pelos filhos que você gerar em Cristo, direcione-os sem medo, lembre-se que um discipulado bem feito pode virar o mundo, o exemplo de Cristo e seus doze é o melhor.
Discipulando, não tenha pressa, entenda os tempos de ouvir e falar, dê espaço para as vozes que o Eterno colocar sobre sua vida para falarem ao seu coração, seja fiel ao processo sem faltas nem reprovações, mantenha fidelidade ao que está sendo construído e nunca pare. O passado já foi e o futuro se constrói agora! Filhos nascem livres e na jornada de cuidados aprendem aquilo que vai ditar suas vidas para sempre. Você tem uma vida para se tornar o que Deus projetou em você, assuma sua identidade e dê início, submeta-se ao discipulado nas mais diversas áreas da sua vida, quando o discipulador sair de sua vida, você não vai ter problemas em continuar.
Quanto mais clara for sua visão de futuro, maior será seu comprometimento no agora e maiores serão os frutos. Um crescimento sem discipulado é só um inchaço, da mesma forma, um trabalho no Reino sem foco é apenas uma terceirização do chamado.
Viva a liberdade conquistada na cruz com responsabilidade, maior honra existe em reconhecer que precisa de conselhos e mentoria do que achar que pode fazer tudo sozinho.
Encerro nossa reflexão, ficou devidamente comprovada a importância do discipulado, qual sua duração e requisitos de efetividade, vale lembrar sempre: Um staff sem visão de Reino é só uma terceirizada contratada para realizar sua conferência, assuma sua posição de Filho e abandone a mentalidade de escravo, ouça e assim você se tornará uma voz relevante, do contrário, seus gritos jamais terão eco.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". Mateus 28. 19,20
Um grande abraço.
Post Scriptum 1: A foto corresponde a um passo importante que uma filha na fé deu recentemente, venceu a resistência com a igreja e começou a congregar em uma comunidade de fé, o que significa muito, pois cada passo deve ser comemorado.
Post Scriptum 2: Já tinha bastante tempo que eu queria falar sobre este assunto, o mesmo é encarado como novidade neste tempo, mas faço esta explanação pela importância mesmo, quem trabalha na área e tem chamado para discipular sabe o quão importante e difícil é. Deus nos dê graça diária.
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