A Carta do Senhor Francisco ao seu Filho Pródigo



Uma noite fria e marcada pela solidão, onde será que anda meu filho? Será que ele ainda me ama? Como queria ter ele de volta em meus braços, não deixaria ninguém levar ele de mim novamente... Vou escrever para ele...

Querido Filho,


Hoje sentei em minha cadeira, que você sempre quis sentar e fiquei pensando por onde você anda...

Desde os meus dez anos de idade trabalhei com meu pai, seguindo com fidelidade seus passos, troquei minhas horas de brincadeira pelo suor de ajudá-lo na manutenção da nossa pequena propriedade rural no interior da Bahia. 

Meu pai foi uma homem sisudo, cara sempre fechada, poucos amigos, ele dizia que a vida nunca seria fácil, que era aquela a oportunidade que eu tinha para me tornar um homem de verdade e que não haveria outra chance.

Não tinha muito o que se falar em escola na época, muito menos em escolhas, sonhos e essas coisas do seu tempo. De opções para a vida só tínhamos a realidade, era encarar ou morrer. 

Ele nunca foi de presentear ninguém, talvez pela força de sua personalidade aliada ao seus escassos recursos financeiros, mas lembro de um dia que ele chegou mais cedo da lavoura, não entrou pela porta da frente, neste dia ele até me dispensou de ir com ele para a labuta, entrou em passos rápidos e logo saiu, voltou e veio pela porta central, aspecto sério, mas havia algo diferente. 

- Menino, amanhã eu vô na cidade resolver umas coisa, tu vai comigo. Disse meu pai naquele dia. 

No dia seguinte ele me acordou mais cedo do que o costume, tomamos apenas um café e tínhamos logo que sair, mas antes, ele me levou aos fundos da casa, atrás de um lençol amarelo estava um objeto, quando ele levantou o lençol, uma caixa de engraxar sapatos apareceu e ele me disse que era para mim, peguei e sem chorar, agradeci. Saímos, em silêncio por sete estádios de distância, mais de um hora em nossa carroça, ao chegar na cidade ele me disse:

- Vou demora um pouco, quero ver o que você consegue fazer com isso aí.

Enquanto ele resolvia suas pendências rurais, eu ia limpando os pés de quem aparecia na minha frente, eu sentia que precisava honrar o esforço do meu pai, aquilo nunca tinha acontecido e não era agora que eu ia decepcionar. 

Foi a melhor noite de sono da minha vida, voltamos com todas as sementes que ele sempre comprava para a lavoura e eu com hum milhão e duzentos mil cruzeiros, foi um dia produtivo. 

E assim eu fui crescendo filho, privado de muitas coisas, mas cresci feliz e bem, disposto a doar minha vida para que minha nova família tivesse as oportunidades que eu não tive. 

No dia vinte e dois de setembro de mil novecentos e noventa e quatro você estava nascendo, vinte e três anos e uma longa história. Nessa época seu irmão já tinha nascido a um bom tempo, coisa de seis anos antes. Você nasceu gordinho, saudável e era um menino muito sorridente, conquistou o coração de todos, inclusive das enfermeiras que queriam te levar para elas. 

Dois anos se passaram e você teve uma crise de pneumonia, foi um período desesperador, sua mãe teve que abandonar o serviço para cuidar de você e nossa situação apertou. 

São muitas lembranças meu filho, ver você crescendo era a maior mistura de sentimentos que vivi, alegria por ver meu homenzinho avançando na vida, mas uma leve angústia de saber que não seria para sempre, só não esperava que fosse assim.

Seu sentimento foi tão diferente, me vi te perdendo aos poucos... Já eram onze horas da noite, fui no seu quarto e você ainda não tinha chegado. Sentei um momento no sofá e aquelas dúvidas da vida começaram a me visitar, me peguei pensando sobre o que poderia estar acontecendo. O coração acelerado só acalmou quando ouvi seus passos entrando no portão, meu filho voltou. 

Semanas se passaram, a cena se repetiu e cada vez menos eu te via, levantava cedo para trabalhar, geralmente você ainda estava dormindo, sempre chegava tarde e raras as vezes conseguia te esperar... Suas notas na escola começaram a baixar, parecia que você estava criando suas próprias ideias, pena que não percebeu que assim desvalorizava a oportunidade que eu não tive.

Fim de semana, quando você era pequeno, adorava ir comigo para a feira, a comida que sua mãe fazia agradava a todos e logo encerrávamos nossas quentinhas e após um sorvete, era a hora do merecido descanso. Ultimamente você já não fazia mais tanta questão assim, o peso nem era o trabalho, era não te ter mais por perto, mesmo sabendo onde você estava.

Te perdi aos poucos e quando vi, estava sentado na sala te aguardando, mas você não voltou aquela noite... Fui em seu quarto e não encontrei suas roupas, tudo revirado, nem um sinal do seu paradeiro e hoje, com a cópia do B.O. nas mãos, sentado na mesma sala e me perguntando: Por onde você anda meu filho?

Eu sei que as novidades aqui não são muito animadoras, mas esse é o momento que eu mais preciso de você, seu pai recebeu um diagnóstico de câncer, você tem seis meses para aparecer de novo se quiser me ver. 

Sabe filho, acho que pela minha criação, nunca fui de demonstrar sentimentos, mas... (pausa tímida para as lágrimas) Eu te Amo!

Não me permita partir sem ao menos te dar um abraço. 

Você foi, mas está aqui no meu coração e todos os dias ele grita para ver se o filho perdido ouve o grito e volta, como pai e filho no hipermercado. Papai pode não ter tudo que você acha importante para uma vida feliz, mas eu tentei!

Eu não sei onde você anda, por isso peço aos anjos que levem esta carta a você, que ao menos te faça cair na real de que tudo isso pode ser diferente...

Se você estiver lendo essa minha carta filho(a), me escreva novamente... Pelo menos para dizer como se sente... Papai esta com saudades, que não seja essa a minha causa mortis...

Manoel Oliveira

A nossa música: Meu Filho Amado


Remetente: Um Pai com o Coração Ansioso por te ver Novamente comigo
Destinatário: Um Filho em Algum Lugar Distante

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